E garanto-vos que, se eu nunca soube ler os olhos dela (e eles são daqueles grandes, muito expressivos, não são janelas da alma, são a própria alma), muito menos consegui ler o seu sorriso, sempre tão carregado de tudo e mais alguma coisa. Tentei decifrá-lo: esperança (sempre), carinho, alegria, vida. Tanta vida.
Nessa manhã tínhamos estado a descutir a cor das almas (ela tinha lido um livro que dizia que todas as almas são prateadas e ela dizia que a alma devia de ter a cor que a pessoa quisesse):
- De que cor é a tua alma?-perguntou ela.
-Sei lá. Talvez azul como mar. E a tua?
-Não sei bem. Rosa, talvez. Ou laranja. Ou verde. Ou amarelo. Não sei gosto de muitas cores.
-É arco-íris.
Ela sorriu.
-Não, já sei - disse eu. - A tua alma é transparente!
Sim, porque ao contrário de todas as moedas de duas faces que são as pessoas, ela era como um cubo de vidro que , apesar de ter seis faces, todas elas são iguais e deixam ver o interior. Ela não mostrava só a parte que queria, ela mostrava tudo, tudo o que era e não era. Transparente, límpida, limpa.
-Sabes, há muitas almas que fogem do corpo para conhecer outros sítios. Mas a tua não - disse-lhe.
-Não, a tua não está presa. Voa durante o dia, abrançando todo o mundo, conhecendo cada ser, cada pessoa, cada formiga, vendo cada raio de sol e cada gota. Mas ela sabe que tem uma casa, um lar para onde voltar todas as noites e sabe que, por muitos que possa deixar esse lar, nunca viveria feliz com essa decisão.
Lembrei-me desta conversa e tornei a olhar para o seu sorriso. Compreendi-o. Estava muito carregado de tudo, mas era apenas felicidade.
SM**Cappuccino
3 comentários:
Muito bonito. Garanto-te que a minha é amarela, da cor do sol. Gostei, parabéns.
Adorei! Não sei de que cor é a mnha alma mesmo...
L-I-N-D-O :| *
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