segunda-feira, 8 de junho de 2009

Doces estrelas

Olhei lá para fora.
Uma tempestade acercava-se da nossa humilde casa à beira-mar. Pensei nele, lá longe, lá esquecido. Será que tinha apanhado algum? Vinha com as redes cheias?
A noite caíra sem que eu desse por isso. Comecei a contar as estrelas. Pensei nas que não conseguia ver. Nas que estavam demasiado longe. Ou que simplesmente não se queriam mostrar. Sim, porque as estrelas também têm vontade própria.
Uma gaivota cruzou aquele azul escuro. Uma luz acendou-se lá ao fundo no horizonte.
Que desejo insaciável era aquele? Que direito proclamado lhes permitia querer alcançar o sonho? Alcançar o horizonte.... E os que cá ficam? E os que não os podem acompanhar?
A luz parecia maior. É ele, pensei. Ele ouviu os meus pensamentos e está a regressar.
Lembrei-me de inúmeras obras. Como sempre. "Horizonte" de Fernando Pessoa. O episódio do "Velho do Restelo", n"Os Lusíadas". A luz aproximou-se e vi que aquele não era o barco dele. "O velho e o mar" de Hemingway.
Olhei para o céu e as estrelas sorriram-me. Sorri-lhes de volta e pedi para me cantarem. Mas elas não cantaram. Supliquei. Nada. Soube imediatamente. Senti lágrimas a escorrerem pelas bochechas. Bochechas. Ele sempre gostara da palavra.
As estrelas derramaram doces lágrimas, acompanhando-me.
Passou muito tempo. Bateram à porta. Era um dos seus colegas. Vinha informar-me. Mas eu já sabia há muito tempo. As estrelas não tinham cantado.


SM**Cappuccino

2 comentários:

Maria Francisca disse...

Às vezes o silêncio é a música que mais dói ouvir.
Está lindo Sofia. :)
*

Sek disse...

Parabéns! Uma história bem contada e de encantar apesar de triste. Gostei deste conto curto.