domingo, 31 de maio de 2009

"Aí é o fogo!"

-Sofia põe-me nos paus.
-Mas ainda não estás cansada?
-Não. Agora larga-me para eu saltar.

"A sabedoria da criança é não saber que morre" (Ruy Belo)

-Não te magoaste?
-Não. Agora anda pos baloiços! Agora empurra-me. Mais alto, mais alto.

Querias tocar no céu, querias passar por cima do mundo e dos adultos.

-Assim tanto não! Agora anda pa casinha! Senta-te aqui. Tas a ver aquela de camisola amarela? Eu conheço-a!
-Sim, eu também.
-Não é giro? Anda pos paus. Eu atiro a bola e tu apanhas.

E ai de quem me apanhasse a bola. Começavas a gritar: Não, não, é a Sofia!
E os adultos largavam a bola, sem perceberem.

"Porque os adultos nunca percebem nada sozinhos e um criança cansa-se de lhes estar sempre a explicar tudo." (O Principezinho)

-Agora foge! Aí está o fogo! Anda cá para cima!
E dei comigo a fugir de um fogo que eu sabia não existir mas em que acreditava.

-Não toques aí, aí é o fogo! Oh, a bola caiu! E foi para o fogo! Põe-me nos paus!
-E não me deixas descansar?
-Não, eu ainda não tou cansada.
Vem a Joana.
-Sofia, Sofia, Sofia, Sofia. Poe nos paus.
E a Mariana.
-Também me ajudas?
E volta a Carolina.
-E a mim!

Mais uma volta.
-Não, mais não. Deixa a Sofia descansar.
-Mas ela não tá cansada!
-Tá sim, eu sei.

"Só as crianças sabem o que querem." (O Principezinho)

-Já te vais embora?
-Já...
-Mas depois voltas? Outro dia?
-Sim.
-Obrigada!

E depois voltei ao meu mundo. Fui no carro com mais adultos. E o que me espantou, é que não conseguia perceber nada do que diziam. Queixavam-se disto e daquilo, diziam piadas sobre acoloutro.
E eu só pensava: Por aí não, aí é o fogo!

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Happy Day


Ela sorria, na sua timidez.
Deu-me a mão e fomos juntas passear.
Peguei-lhe ao colo, deixei-a ver o que via.
Mostrei-lhe o meu mundo,
Mostrei-lhe as maravilhas do homem e da Natureza.
Mostrei-lhe tudo quanto pediu.
Mostrei-lhe a altura dos prédios, mostrei-lhe os pombos a comer, a relva, as outras crianças.
Mostrei-lhe o mar, mostrei-lhe as conchas e as gaivotas, mostrei-lhe as ondas e as falésias, mostrei-lhe os barcos longíquos e a espuma branca. Mostrei-lhe as nossas pegadas pela areia.

No fim do dia, quando me fui embora ela disse-o, ainda com um sorriso.
Disse-o assim, como que para finalizar o dia, para tornar perfeito aquele momento. Como que a dizer-me o que tinha sido mais importante.

"Gosto muito de ti."

SM**

terça-feira, 19 de maio de 2009

Sorrisos

Entrei hoje para a natação, como todas as terças. Fui um pouco mais tarde e apanhei os mais novos a entrarem ao mesmo tempo. Todos me cumprimentaram.

Há umas semanas, todas encolhidas a um canto. Apontavam para mim, sorriam, segredavam. Perguntava-me o que estariam a magicar. Até que começaram a discutir e uma veio ter comigo empurrada pelas outras. Com um grande sorriso e muita timidez perguntou-me como me chamava. "Sofia" disse. Ela voltou a correr. "Chama-se Sofia", "É a Sofia", Sofia, Sofia era tudo o que conseguia ouvir. Nesse dia quando me fui embora disseram todas em coro: "Adeus Sofia". "Adeus", respondi eu com um sorriso. "Ela respondeu, viste? Ela respondeu!". E eu sorri pela simplicidade daquelas crianças.

E agora é sempre o Bom dia e o Adeus. Sorrisos e risos.

Hoje foi diferente. Uma delas chegou-se a mim e abraçou-me enquanto dizia "Olá Sofia". Olá, respondi eu. Ela foi a correr para o balneário a cantar "eu abracei-a, eu abracei-a!" "Não abraçaste nada!" "Abracei sim, e ela também me abraçou!" "Que sortuda, eu também quero!"

E senti-me feliz. O simples facto de eu falar com elas, de em preocupar com elas, de querer saber como correra o seu dia eram momentos de pura felicidade. Começaram a perguntar-me mais coisas, sempre com aquela timidez inicial, mas com um brilho de curiosidade no olhar.

E vi a criança que nunca perdi, a criança que continua dentro de mim, soterrada pelas capas da vida. Hoje retirei-as todas, e voltei a sorrir só porque sim.

Porque o melhor do mundo são as crianças.

SM**

Obrigada.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Muda

Mudam-se os ventos
Mudam-se as palavras
Muda-se a freguesia
Muda-se o calendário
Mudam-se os amigos e amigas
Mudam-se as emoções e os dizeres
Mudam-se os cantares de alegria.
Muda a saudade das bonecas para a saudade das pessoas
Muda o sorriso para a desconfiança.
Mas o teu sorriso não muda.
Mas a nossa relação não muda.
Mas o mar, intocável e impossuível, não muda.
Mas a confiança que tenho em ti não muda.
Mas a esperança que sempre me transmites não muda.

Mudam as estações
Mas no meu coração é sempre Primavera, estação da vida.
Ou Verão, estação do prazer e descanso, da boa-disposição.
Ou Outono, estação das castanhas, do reencontro com os amigos, da amizade.
Ou Inverno, estação das descobertas e celebrações.

Não interessa, isso não muda.

SM**

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Gosto de ti

Gosto muito e de muitas coisas.
Gosto quando me abraças.
Gosto dos beijinhos de bom-dia.
Gosto de elogios.
Gosto de passear à chuva.
Gosto da tua voz.
Gosto de ti, e não tenho vergonha de o dizer.

Hoje ouvi insultos atrás de insultos, boatos atrás de boatos, rumores, más-línguas e sabe-se lá que mais. Mas os "gosto muito de ti" foram raros. Um, dois? E isso porque hoje era um daqueles dias bons.
O que aconteceu a esta sociedade? Há uma falta de carinho, uma falta de segurança, uma falta de tudo. Há uma vergonha imparável em mostrar que temos sentimentos. E maior ainda se gostarmos e aceitarmos esses sentimos. "Eu odeio-te", o ódio é um mau sentimento, é um que posso revelar. "Gosto de ti", "És uma boa pessoa", até o "Obrigado" aquele "Obrigado" sincero e sorridente de quem agradece realmente, foram esquecidos. Enterrados por baixo da discórdia, do ódio, da indiferença.
Dizem que a linha entre o ódio e o amor é muito ténue. Então como é que todos odiamos alguém e dizemo-lo (juntamente com todos os defeitos da pessoa em causa) aos sete ventos e não somos capazes de elogiar alguém? Não sei se já vos aconteceu. Criticam com a maior das facilidades : "Não és bom nisto", "fizeste mal aquilo", mas sempre que vão elogiar pensam "quem sou eu para me estar a meter na vida dessa pessoa?", "o que irá ela pensar?", "E se for despropositado?".

Pois eu digo-o, e bem alto, para que todos oiçam (leiam, neste caso).
Gosto muito, mesmo muito de ti.
E não tenho vergonha nenhuma disso.

SM**

sábado, 9 de maio de 2009

Muralhas

Chorava.
Estavas do lado de fora da história, à minha espera.
Eu tinha criado barreiras que sabia não conseguires transpôr.
Usei todas as armas que tinha, gastei todas as minhas forças.
E tu, tu tentaste desfazê-la.
Lutaste, destruíste o meu trabalho, mas eu fui mais rápida.
Tentaste encontrar alguma falha ou fenda nos muros, mas eles eram perfeitos. Tal como tu me ensinaste a fazê-los.
Cavaste, escalaste, tentaste por tudo penetrar naquele meu mundo. Até que, não sei como, sem um único buraco ou barulho, entraste.
Esfarrapado e arranhado, maltratado e cansado.
Mas estavas ali. Sentaste-te ao meu lado e olhaste-me.
No teu olhar não havia raiva pelo esforço, nem cansaço sequer. Só paixão.
E eu soube que tudo tinha voltado ao normal.

Obrigada por nunca desistires.
E por me ensinares a nunca desistir.

SM**

sábado, 2 de maio de 2009

Para onde fugiste?

Onde estás agora?
Onde estás agora que descobri os teus truques?
Para onde foste agora que deixei de acreditar em ti?
Para onde foste agora que ficaste sem armas?
E agora? Não me tentas mais iludir?
Já não me tentas?
Percebes agora porque te chamo falsa e inalcansável?
Só existes para os que perseguem os caminhos fáceis.
Basta deixar de te proteger para sumires.
Basta ficares sem argumentos para te evaporares.
Iludes, tentas, conquistas e vais-te.
Pois então, vem.
Vem cá se és capaz.
Já não acredito em ti e nos teus truques, já te conheço.
E agora, onde está toda a força que mostravas? Toda a coragem?
E agora, para onde foste?
Para onde fugiste desta vez?

SM**

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Preciso de ti

Preciso de ti.
Preciso do teu sorriso cumplice
E do teu olhar desconfiado.
Preciso das tuas emendas
E das tuas respostas.
Preciso do teu riso
E maneira de ser.
Preciso do teu mistério
E do pouco que conheço de ti.
Preciso das palavras
Que todos os dias me dizes.
Preciso de ti,
O meu desafio diário
O meu objectivo a cumprir.
Preciso de que me digas que irei conseguir,
Preciso que me olhes com aquele olhar que só tu sabes fazer.
Preciso dos teus gestos e confidências,
Das tuas frases repetidas.
Preciso mesmo de ti,
E não te posso dizer.

SM**