sábado, 18 de setembro de 2010

Batidos de fruta e especiarias

Se me fores procurar a casa, aviso-te que já lá não estou.
Fui para o pontão, o nosso pontão que é de toda a gente que por lá passa. E não é de ninguém.
Fui relembrar as nossas tardes com sabor a canela, arrepios de laranja e cores doces.
Relembrar os momentos que nunca pudeste entender, embora eu entendesse pelos dois.
Relembrar tudo o que fazia, contrariada, desejando estar nos campos de kiwi onde cresci a olhar o rio pintado com leves reflexos de baunilha.
Relembrar o bolo que não gostaste, que nem sequer provaste.
Relembrar que costumava associar cores e sabores a momentos especiais.
Relembrar que adorava quando me dizias que o meu cabelo era chocolate derretido, com notas de limão, reflexos de caramelo e tons de paprika.
E, entretanto, em reflexões onde tu não entravas, lembrei-me que cozinhar não envolvia livros, nem medidas, nem regras, apenas o cheiro que me deixava antever o sabor, a cor a aromarizar, a textura aveluda de algo que outrora me escapava pelos dedos.

Se me fores procurar a casa, aviso-te que já que estou na cozinha.
E que, ao contrário de todas as outras vezes, não, não te vou deixar entrar. Nem sequer vou ouvir a campainha.

SM**Cappuccino

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Águas e algas fortificadas

Olhas para o mar como se o conhecesses.
Como se o entendesses, como se lhe perdoasses a sua fúria.
Constróis uma barreira invisível à tua volta, meticulosamente; os teus olhos escuros fecham-se e não brilham com a luz do sol. Não reparas quando fazes isso. Sei que nem sabes que estou ao teu lado. Só vês o mar, a forma como reflecte a luz do sol, a espuma em cada onda. Não me deixas entrar nessa tua fortaleza. Aliás, não deixas ninguém entrar.
Observas o mar como ninguém. Como se lhe percebesses os mistérios que encerra, como se sentisses cada uma das suas criaturas fantásticas, como se fosses uma delas. Como se lhes desvendasses as ilusões verdadeiras.
Sempre me disseste que o mar não é o reflexo do céu. Porque, se fosse, seria um reflexo distorcido. O mar é tudo aquilo que o céu esconde. Se o céu está triste e chora, o mar revolta-se. Se o céu se apaga, o mar torna-se escuridão. Se o céu é límpido e claro, o mar veste as suas cores mais bonitas e mostra-as ao vento invejoso.  O mar é tudo o que o céu esconde.  O mar é tudo o que o céu deseja ser. Os teus olhos são tudo o que o teu sorriso esconde. Os teus olhos, grandes, brilhantes, com mais reflexos do que o próprio mar, são tudo o que o teu sorriso deseja ser. Um dia hás-de ver isso. Hei-de tirar-te uma fotografia quando estiveres demasiado absorta e não reparares. Não te vais reconhecer. Sei que não.
E, no entanto, é assim que eu te conheço melhor.
Assim, é a única parte de ti que conheço realmente.


SM**Cappuccino


P.S.: Descobri, graças à nova adição das estatíscas no painel do blogger, que tenho visitantes de Portugal, Brasil, Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Roménia e Holanda. Por isso: Olá! Hi there! Bonjour! e olá em romeno e holandês. e Muito obrigada pela visita!, Thank so much for your visit!, Merci pour vôtre visite! e o mesmo em romeno e holandês.
E muitos beijinhos a todos. E não Marta, não consegui enviar antes das cincos. Envio para a próxima palavra, sim?

P.S 2: Descobri também que tirei umas fotografias mesmo giras ao pé de nenúfares, mas que pus a máquina em manual e nunca mais me lembrei de tirar, então ficaram todas pixeladas. Montes de Pôxa e Apuuuu