sexta-feira, 22 de abril de 2011

Anchor

Há momentos que vêm, tocam-nos ao de leve, provocam-nos um arrepio, um sorriso, um voltear. E depois desaparecem, sem deixar rasto, sem deixar memória. Pequenos pedaços de emoções com que vamos enchendo o nosso dia-a-dia, construindo uma realidade repleta de pequenos pormenores.
E depois há momentos excepcionais, que nos dilaceram até chegarem ao coração, se escondem lá dentro, bem fundo para que ninguém os consiga arrancar. Pequenas âncoras a que recorremos nos maus dias. Uma cura para a tristeza, uma chávena de cacau quente num dia frio, um pisotear de folhas de Outono, uma explosão de cores silvestres e alegrias de Verão. Um sorriso, um toque, uma frase. Pequenas memórias que não queremos largar por nada, que não deixamos ninguém agarrar. Pequenas memórias que se tornam no que nos move. No que, no fim de contas, acabamos por ser. Uma força pura que luta contra todos os obstáculos que aparecem, que não nos deixa parar.
E sabem que mais? Acabamos por vencer.

Mais tarde ou mais cedo. Vencemos sempre.

SM**Cap

domingo, 17 de abril de 2011

With lots of strings

Tenho demasiadas cordas. Demasiadas cordas, exactamente.
Cordas feitas de aço que me prendem a respiração, sem me prenderem realmente a sítio nenhum.
Murmúrios e lamúrios inconsistentes aos meus ouvidos. Grilhões sem sentido, consciências refinadas no exímio poder manipulador.
Mas posso-as apenas ouvir. Nada dizem, nada significam, não interessam. Não se interessam.

Basta, chega.
Quero voltar a sentir, a sentir-me livre, a sentir as palavras a ressoar no ar, flutuando docemente enquanto são proferidas, as linhas escritas a desvanecerem nos pensamentos, a música a tocar ao longe, ecoando dentro de mim, batendo ao mesmo ritmo que o meu coração (ou será ao contrário? não, sei, já perdi toda a noção).
A realidade escapa-me por entre os dedos e não a consigo agarrar. Demasiado líquida, demasiado escorregadia e básica, já não chega para me contentar. Demasiado irreal para existir neste mundo.

E, no entanto, há uma voz ao fundo. Muito ténue, muito suave. Mal a oiço. Não ressoa, não soa. Apenas a sinto, um arrepio pelo braço acima, um sussuro doce na orelha. Um abraço conhecido, um brincar com os cabelos, um olhar compreendido. Pensamentos partilhados. Uma realidade demasiado irreal substituída por uma verdade que já conheço de cor mas que, no entanto, cada dia descubro. Um novo sorriso, um cabelo desalinhado.
Portanto sim, com montes de cordas. Cordas cortadas e atiradas ao chão, pisadas e esquecidas. E uma nova realidade, construída a partir de pedaços de emoções puras, pintada com gestos. Não, não me escapa sem parar por estes dedos que seguras. Não, está segura dentro do meu coração.

Como devia ter estado sempre.


SM**Cap