terça-feira, 15 de setembro de 2009

Peça de Teatro

Bola bolas e mais bolas.
Não me lembro da frase. A audiência a olhar assim também não ajuda, e muito menos o facto de toda a gente ter o programa com as falas todas à frente. Excepto os "actores", claro. Bolas bolas, não me lembro de nada!
E ele, a olhar para mim, à minha frente, a pensar que eu estou a criar suspense, à espera que eu diga as palavras "mágicas" para podermos arruinar a nossa relação teatral, como está escrito em todos os programas que eu não consigo ler.
Olhei para ele, para os seus olhos tranquilos e sorridentes. Olhei através deles, queria ver-lhe a sua alma... Lá está! Bonita e simples, eufórica e entusiasmada.
Ao contrário de mim.
"-Se... Farias qualquer coisa por mim?"
Toda a gente olhou para o guião atarantada. Não era nada disto.
Ele olhou-me perguntando-me o que estava a fazer.
"-Claro. Sabes que sim."
"-Tudo mesmo?"
"-Tudo."
"-E se... se eu estivesse mal... Mas mesmo mal, se eu tivesse batido lá no fundo, se não conseguisse voltar à superfície..." As palavras saíam sem ter tempo para pensar nelas. "Se eu não quisesse voltar..."
"-O que-"
"-Se eu estivesse a sofrer e só quisesse partir... Matavas-me?"
A audiência olhva especada. Ele também. Eu não fazia a mínima ideia porque tinha perguntado aquilo, mas sinceramente eu já tinha saído da peça. E ele percebeu isso. O palco, o cenário que levara dois meses a concluir, os programas, a audiêcia, a sala, tudo desapareceu. Aquilo já não era uma peça, era uma realidade. A nossa realidade.
"-Eu nunca... Tu não" Gaguejou.
"-Se eu não aguentasse mais. Mas se não tivesse coragem para o fazer sozinha. Se me amasses mais do que tudo irias querer acabar com o meu sofrimento."
"-Sim, claro, mas..."
"-Fá-lo-ias?"
Hesitámos os dois alheios no nosso mundo.
"-Eu faria qualquer coisa por ti."
E então, quis lá saber do guião, do pressuposto acto em que nos deveríamos zangar e estragar o "happy ending", e continuar as nossas vidas longe dali. Não esperei pelas cortinas, não esperei pelos sermões do director, nem por aplausos nem nada. Beijei-o ali mesmo, e não quis saber de mais nada.
Fecharam as cortinas. O responsável veio-me dar um sermão "Devias ter decorado as falas.... seguir o guião, blá blá blá." O director veio a seguir e deu-me os parabéns. O quê?? Sim, os parabéns, todo público adorou a reviravolta e fomos convidados para repetir a peça num teatro a sério.

E eu quis lá saber.
"-Eu faria qualquer coisa por ti" ecoava no meus ouvidos e eu não queria esquecer a mais bela música da sua voz.

SM** Cappuccino

9 comentários:

litapoop disse...

obrigada, :)
é novo, criei à cerca de uns dias. ainda está muito simples..

e obrigada também pelo elogio ao poema, ás vezes dá-me para estas coisas..

beijinhos

litapoop disse...

eu bem que queria colocar música no blog, mas posta em acção a minha ignorância, não sei como se faz..

de nada, obrigada eu :)

beijinhos

opinião própria disse...

Bom texto.Saudações...

Sandra disse...

tu e tu sofi! sempre a surpreender! este está excelente, mesmo!
beijinhosss *

Carlos Manuel Ribeiro disse...

Isso é que foi uma peça real em cenário teatral.. são as mais naturais, mais verdadeiras, as que tem mais calor em que os papeis se invertem e o actor já não representa, apenas vive a peça conforme lhe sai da alma, improvisada. O público sente isso, e geralmente adora.

Parabéns menina, estiveste bem. Gostei!

Fica bem,
CR/de
www.carlosribeiro-photos.blogspot.com

Sofia Carvalho disse...

Fiquei sem palavras...o que fizeste na peça chama-se improvisação. umas das coisas que mais admiro seja numa peça de teatro, num concerto musical etc. Parabéns pela tua ousadia!;)

Raquel disse...

Adorei! está realmente... muitas vezes não precisamos do público, as pessoas à nossa volta, ou muitas coisas supérfluas. Basta-nos as pessoas que amamos!

Carlos Manuel Ribeiro disse...

Olá menina,

Obrigado pelo teu agradável comentário que deixaste no meu post "Reflexos no Douro".

Quanto roteiro, podes crer que é assim mesmo. Aliás, se não tivesse a certeza do que estava a escrever, também não o narrava!

Bjs aos pedacinhos,
CR/de
www.carlosribeiro-photos.blogspot.com

Carla disse...

Oi lindas, tudo bem convosco? Obrigado por estarem sempre em cima das minhas parvoeiradas, anima saber que "estão ai". Um super beijão e uma boa semana